2013/02/07

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As Crônicas de Charn [Cap. VI]

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Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos.
As Crônicas de Charn Apocalipse:
— A flecha da mais imponente das almas. [Capítulo VI]

- A você, sua vagabunda, foi feita uma oferta. – continuou a voz, que elevava seu volume a cada pausa, na espera do término dos gritos. 

– Você sabe e muito bem, seguir as ordens da imponente Imperatriz de bruxaria, é um jeito delicioso, prazeroso e suave de viver. Este lugar sempre pertenceu a ela! Aja como seus vizinhos. Entregue suas posses e agradeça a liberdade, ou recuse e assista, sinta a tortura de seu filho.  Após as doloridas e atormentadoras palavras ecoarem nos ouvidos de Eli, ouviu-se um estrondo. A porta principal da casa, em que se originava a discussão, fora quebrada, e dela surgiu um homem de meia idade, alto, forte e de aparência respeitosa. Sobre seus braços estavam uma senhora, com a barriga e cintura alagadas de sangue e um bebê; este chorava, já prevendo o tormento de seu futuro. O homem aproximava-se do jovem, o qual continuava profundamente quieto e imóvel.  


A mente do órfão permanecia confusa, impossibilitando qualquer movimento. Então, paralisou o momento em sua percepção, e, depois de miseráveis milésimos de segundo, cogitou: “Ainda não devo arriscar-me por alguém.” E completava: “Ninguém tentou defender minha família, assim, estão pagando pelo passado.” Já obtida a certeza de como atuar, montou o cavalo, atrapalhando seu almoço, e traçou a rota. No entanto, a voz, que mais parecia o ruído de um trovão, o suspendeu:


- Que faz aqui, sem terra?

- Meu senhor, sou apenas um viajante. – respondeu Eli, sequer ousando virar o corpo, tão pouco o rosto, na continuação do diálogo. Discutia de costas ao enorme ser, já que desfrutava de inflexíveis arrependimentos e temor, afinal, quem o asseguraria de trabalhos generais à Feiticeira, de todos ali presentes? Muito mais difícil saber era, ainda, a conscientização do grandalhão sobre o que passara em conjunto ao espectro: o indivíduo de postura séria estaria ciente da falha do espírito condenado em capturar o noviço fugitivo? “Terrível seria minhas próximas horas, caso a resposta fosse afirmativa.” , o próprio considerou. – Minha trilha teve inicio na metrópole, estou na estrada faz uma semana. 

O homem reagiu de forma estranha. Com uma risada maléfica e ajeitando sua cota de malha verde-musgo, no interior de seu destemido peitoral de um prata miticamente reluzente, tornando-se a fonte de deslumbramento da poderosa escuridão ambiente, questionou:

- Deve estar com imensa sede, não deseja lamber as lágrimas e gotas de sangue, ao lado dos ratos, na fila de espera da D.O.P.S? Deve saber que as regras são óbvias: aquele que sai da metrópole falecerá da mesma maneira, se lá continuasse.

Desesperado e compreendendo que aquilo era uma cilada, o garoto tapeou alucinadamente a barriga de seu mamífero e, após um ou dois coices frenéticos de retruco, partiram em regresso a última trilha, a toda velocidade para o sul, para depois contorná-lo rumo ao norte. Imediatamente, o, de patente elevado, guarda, obviamente membro da divisão militar de feitiçaria, colocou no chão, a chutes, os dois sujeitos que carregava. E em instantes, já tinha um arco e flechas em posse; o instrumento estava em nós num dos, até então, grandiosos postes de madeira nobre local, agora não mais tão monumental, pois o menino e seu animal levaram metade do comprimento ao chão, em movimentos de média facilidade, até porque, tratava-se de lenha sublime, mas já apodrecida com o tempo. Em vão: nada seria capaz de deter a avantajada e reverente criatura. Com um tiro certeiro na região lombar do quadrúpede, acarretou um tombo horrendo de rapaz e do próprio transporte, em lagos de sangue, praticamente ao lado da saída dos fundos do pântano circular.

Uma tempestade aproximava-se. Eli sabia que nada podia ser feito, seria assassinado, cruelmente, de qualquer maneira. Passados segundos, em seguida de uma apavorante gargalhada, o homem avançou, e com o enorme pé imobilizando a cabeça do jovem, interrogou:

- Magricelo e infeliz, terá poucos dias de vida. Eu, como seu caçador, definirei o seu futuro: serei seu demônio. Você viu muita coisa, fugiu de um espírito condenado e ainda queres ir longe? Charn não foi feita para tolos e lixos como você. Esse seu rosto repleto de lama, enfeitará um corredor de minha casa.



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NOTA: A história tem como base a crônica "The Magician's Nephew" do escritor C.S.Lewis; nesta, o mundo Charn é citado.

Idealizado por Rodrigo Carvalho;
Escrito por Luis Henrique;


Enfim todos poderão ter "As Crônicas de Charn: Apocalipse" em mãos. Próximo ao término das postagens de capítulos aqui, no Skandar Keynes BR, será publicado o livro desta renomada história. Aguardem novidades.

Todos os direitos reservados: Luis Henrique e Rodrigo Carvalho.
Qualquer tentativa de plágio do conteúdo, acarretará a rigorosas punições aos valores autorais.

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