2013/02/28

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As Crônicas de Charn [Cap.IX]

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Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.
As Crônicas de Charn Apocalipse:
— Escrita dos demônios. [Capítulo IX]

Enfim foi possível visualizar o indivíduo. Tratava-se de uma mulher, provavelmente, com idade superior à de um adolescente e inferior à de um adulto completo. No entanto, a estranha era de imensa diferença a tudo que Eli já vira e imaginara; algo de outro mundo, como ele acrescentou mais tarde. Difícil é descrevê-la. Seus olhos verdes eram de grande profundeza, aliados a um busto charmoso, lembravam fazendeiras de Scimilia, a oeste da metrópole. Possuía, também, bochechas largas e brancas, algo nostálgico para aqueles que conheceram as damas de Londyfar, que fora destruída e tomada invernos atrás, por Sidjah. Infelizmente, a esquisita estava severamente machucada e doentia: a parte superior de sua cabeça, que deveria ter um magnífico cabelo louro no passado, encontrava-se com enormes manchas pretas. Seus seios detinham de inúmeras marcas e deprimentes cicatrizes que formavam mensagens de ameaças a estupro; apresentava volumoso prazer e usufruía de expressões malucas e depressivas. Quando finalmente avançou por completo, deixando clara sua felicidade em estar nua, a maluca mulher - Lenir Kirke. - exclamou, interrompendo a desconfiança dos recém- cativos em conceder uma resposta:

No exato momento, o ódio tomou posse de Eli. O menino precipitou-se e a milímetros de distância da louca provocadora, que se afundou em sombras do anoitecer, exclamou:

— Sou Eli... Acha que é quem, afinal, para zombar de meus pais?

— Criança vagabunda e miserável! – gritou Lenir, agarrando o órfão e o contra-atacando com um penoso tapa. – Não irá aguentar. Morrerá com paisagens desenhadas nas costas, de tantas chicoteadas... Siga minhas ordens enquanto pode ou encontrará o sofrimento mais cedo.

A noite chegara e a discussão agravava-se. Eli estava convicto a lutar honrosamente para obter a glória sangrenta e desfrutar de um sorriso vingativo nos seus últimos dias, ou acabar defunto e incinerado ao som de gargalhadas doentias. Porém, prestes a partirem ao massacre, ouviram o ruído de passos pesados, acompanhados pelo tilintar de chaves; este era repugnante. Assustados e envolvidos de pensamentos negativos e desgraçados, ambos os prisioneiros partiram para os cantos da cela, locais onde a escuridão reinava. Mas de nada adiantara. Sentiram o calor de uma tocha e instantes depois, avistaram um guarda de armadura cinza-prateada aproximando-se lentamente. Em um piscar de olhos, o tal guarda lançou a tocha metros à frente e abriu o enorme cadeado da cela em que o órfão e companhia se encontravam, aos berros:

— Vocês dois. O menino e a mulher de cor de trigueira levantem-se e me sigam... Nada temam, é só uma tradição aos novatos. E lembrem-se, qualquer tentativa de fuga e ambos irão adiantados para a guilhotina: primeiramente os braços; depois as pernas...

Sabendo que não seria eficaz qualquer tentativa, os dois prisioneiros seguiram as ordens. Após algumas atitudes abusivas de poder do guarda, Eli e a senhora colocaram-se em um longo corredor à esquerda. Neste, não era possível ver nada além de um palmo, de contrapartida, tinham que aguentar agonizantes gritos ao redor, mais escandalosos a cada marcha. Mais parecia atravessar um esgoto observando cenas canibais e experiências falhas de suicídio em celas minúsculas, nos dois lados. Hora ou outra e Eli pisava em cadáveres.

A fome e cansaço do rapaz o sucumbiam quando, finalmente, chegaram ao destino. - um pátio negrume, quadrado e de tamanho médio, ladeado por centenas de estátuas negras referenciais à Jadis e antepassados. - Contudo, o que se vira gerava a perca completa da fé e aos mais frágeis e despreparados, lágrimas de piedade. Uma fileira vertical de detidos novatos estendia-se, iluminada por chamas pouco intensas e pálidas; de forma curiosa, cada um deles procurava avistar desesperadamente o que se passava mais adiante. Arriscando-se e movimentando as sentinelas do local, Eli correu mais a frente e notou o que se passara: a cabeleira do número um da fila era cortada por um homem de expressão apavoradora, para depois, no seu liso crânio ser “escrito” com uma navalha, banhada a vermelho seco, o seu futuro dali em diante: D.O.P.S.
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NOTA: A história tem como base a crônica "The Magician's Nephew" do escritor C.S.Lewis; nesta, o mundo Charn é citado.

Idealizado por Rodrigo Carvalho;

Escrito por Luis Henrique;

Enfim todos poderão ter "As Crônicas de Charn: Apocalipse" em mãos. Próximo ao término das postagens de capítulos aqui, no Skandar Keynes BR, será publicado o livro desta renomada história. Aguardem novidades.


Todos os direitos reservados: Luis Henrique e Rodrigo Carvalho.
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