2013/03/21

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As Crônicas de Charn [Cap.XII]

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Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos!
As Crônicas de Charn Apocalipse:
— Ora,ora; serei seu psicopata predileto. [Capítulo XII]

Eli enfim estava acorrentado ao medo e tortura. Atado igualmente à opressão, o jovem apresentava aspectos furiosos de ira e descrédito, contudo, ciente e convencido que naquele lugar continuaria até a última de suas meditações. Ainda indignado e descontento ao absoluto com as siglas da tormenta em seu crânio, o órfão permanecia de joelhos, cabeça abaixada, — ocasionalmente assistindo o reflexo, no espelho da vergonha soberana, das lambidas do fulvo no canivete molhado, às suas costas, seguido de ajeitadas sutis no cabelo vermelho e chutes violentos, que atingiam a criança a gritos desesperados...  —  E com lágrimas em sua
face adolescente, todavia, de aparência velha, devido ao cansaço e abatimento; sua mente repartia-se em pedidos de uma ajuda já impossível e o calor da vingança distante, no entanto, incontrolável. Em tempos pacíficos atrás, o menino perguntou ao seu falecido pai, enquanto este afiava uma espada em rochas estranhas: “ Senhor, o que seria a vida?” Surpreso e apresentando um rosto pálido, mas orgulhoso, o pai respondeu: “ Filho, a vida é um longo e rigoroso teste em que só os preparados pelo sábio sofrimento alcançam resultados positivos. É algo complexo: amigos surgem, entretanto, acompanhados de nascentes inimigos; aborrecimentos emergirão, consequentemente, seja hábil para os ludibriar; tiranos chegarão sedentos para acordar seu pânico interior, portanto, esteja preparado. Seu espírito será fonte de lembranças e amores, não o torne sua fraqueza.” 

— Senhoras e senhores! O aperitivo da festa. — anunciou o baixo ruivo, depois de apanhar o pescoço de Eli e o ameaçar, acostando a navalha sangrenta em seus olhos raivosos e exaustos. — Por que chora, abandonado? Olha, olha, sabes-te de uma coisa? Você me traz recordações do passado e odeio esses tais anos já antigos, inútil... Quando eu era um garoto, assim como você, deduzo pelo seu tamanho e berros a um alguém inexistente, convivi com algumas causas engraçadas. Sabe, sabe, havia um menino chamado Rezalet. — curiosamente, ao pronunciar o nome, iniciou uma série de gargalhadas doentias e sem fim. — Esse menino fora abandonado por seus pais, que conviviam em espancamentos e, procurando um abrigo no silêncio da desgraça, ele deparou-se com um portão reluzente, contínuo de muros... Prestem atenção, infelizes, ou morrerão agradavelmente como o casal da história. — e rapidamente apontou o dedo indicador de sua mão esquerda, excessivamente asquerosa, na direção leste, onde um grupo de pessoas gesticulava discretamente, nada próximo e barulhento.

— Estava referindo-me à que, mesmo? — precedeu o perturbado, minuto ou outro, esfregando a lâmina imunda no seu terno anil, desprezando o avental que o cobria. — Bem, surpreendente e cruelmente, a criança fora apanhada por dois homens aterradores e para o auge da piada, estes a carregaram para uma prisão, ou melhor, algo de maior graça a uma prisão: D.O.P.S. Lá, passou dez anos de sua desprezível vida aprendendo a ignorar a confiança e afins. — súbito, uma nova série de risos atordoantes tomou posse do individuo narrador. — Num belo dia de manhã, num dia em que a peste dominou as bocas corruptas e sarcásticas, o garoto resolveu arriscar-se em uma fuga. A escapatória foi eficaz, assemelhada ao sacrifício de estúpidos assistentes e dos olhos tão solenes e esperançosos do vindouro fugitivo, somente porque o vigilante da torre B-2, singelamente bêbado, com um cigarro gasto entre os dedos e uma adaga luzente em outra mão, o alcançou brutalmente, apenas 50 metros de distância ao portão dos fundos, descuidosamente aberto por uma fresta em manutenção; agarrou-o sem remorso e, zombando do lacrimejo perto da liberdade e pós-sofrimento, lhe retalhou e cegou, resultando em cicatrizes medonhas nos pequenos olhos e boca do traumatizado rapaz; "Por que chorava? Por que não sorri? Por que tão desanimado?", indagava e caçoava o embebedado cômico (pouco possível não deliciar-se em loucas gargalhadas nesta parte da história). Rezalet, noites após, compreendeu o lado irônico da coisa, afinal, acabavam suas tristezas, depressões e lágrimas com aqueles que juram fidelidade, mas desaparecem num sorriso aflitivo. Desta forma, — enquanto emitia lentamente, agachou-se para perto do rapaz ensanguentado, fazendo pequenos cortes em sua bochecha; “desenhando horizontes”, como explicou mais tarde. — o infeliz jovem afirmou a si próprio que voltaria àquela prisão. O motivo? Noites em claro, assistindo danças de espectros agonizantes e ouvindo o soar de berros e pactos interiores de misericórdia. Chamo-me Rezalet, lastimáveis, felizardos e apreciadores de fatalidades aqui presentes. 

Espantosa e estranha fora a reação de Eli ao encontro das últimas, porém impactantes, palavras do “cabeleireiro”, — Rezalet. — com sua confusa mente. Ambos possuíam passados semelhantes, algo como histórias cruzadas. O menino, por sua vez, elevava a convicção de desespero pela vingança, por outro lado, a distante saudade dos familiares, que viera à tona, fazia-o reter de uma inexplicável crença de que sua vida, a autêntica, encerrava-se ali, e a desgraça e tormento valsavam minuciosamente ao além-profundo de suas proximidades vitais; dúvidas de personalidade e incógnitas pessoais, sobre o que e para que agir dali à frente, baleavam-lhe sem piedade. O detento 873 suspirou intensamente ao ouvir as seguintes ordens:

— Apreciem e compreendam que o temor é superior à esperança e a tão aclamada fé, uma mera ilusão. Guardas, conduzam e guiem este vagabundo à sua cela. Espero que tenha se entretido e divertido, imprestável.



O fizeram. O adolescente fora arrastado novamente para o corredor sombrio, de desagradáveis odores e sensações agonizantes, que horas passadas, cruzou rumo à desconhecida barbaridade. Em meio aquele buraco negro, atento, Eli notou as costumes discussões de posse de território e intimações cativas de assassinato e, ao longínquo, novos clamores alucinados, provavelmente originados do altar que há pouco estava. Quando, por fim, encontrou-se em frente de uma característica e pequena cela e avistou raios esverdeados banhados ao negrume, escutou a voz que menos almejava:

— Ora, ora, ora, constatamos que não recebeu a ajuda e proteção daqueles seus pais de tanta vanglória, pseudo-heróis.




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NOTA: A história tem como base a crônica "The Magician's Nephew" do escritor C.S.Lewis; nesta, o mundo Charn é citado.

Idealizado por Rodrigo Carvalho;
Escrito por Luis Henrique com participação de Rodrigo Carvalho(12° Capítulo);


Enfim todos poderão ter "As Crônicas de Charn: Apocalipse" em mãos. Próximo ao término das postagens de capítulos aqui, no Skandar Keynes BR, será publicado o livro desta renomada história.  Aguardem novidades.

Todos os direitos reservados: Luis Henrique e Rodrigo Carvalho.
Qualquer tentativa de plágio do conteúdo, acarretará a rigorosas punições aos valores autorais.


Este capítulo é dedicado ao falecido ator australiano Heathcliff Andrew "Heath" Ledger, que viveu o personagem Coringa (Bill Finger e Bob Kane ) no filme "The Dark Knight"(2008). O ator morreu dias antes da estréia do filme e, devido sua marcante atuação no papel do psicopata piadista, ganhou o Oscar do ano como melhor ator coadjuvante. Descanse em paz, Heath, e obrigado pela fonte de inspiração.

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