2013/04/04

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As Crônicas de Charn [Cap.XIV]

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Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.
As Crônicas de Charn Apocalipse: — Filha da sagacidade [Cap. XIV].

Dinâmica era a situação. Eli, de pouca compreensão sobre o que se passava, — apenas ciente que trancaria, de uma vez por todas, seu ódio irracional. Entendido, igualmente, da possibilidade de travar sua última batalha e último suspiro ali, numa cela imunda e apertada. — deslocava-se sempre à frente, no experimento, inútil até então, de agredir a emissora de tamanha irritação, Kirke. Lenir concebia rigorosos tombos ao órfão e impunha maléficos pensamentos em sua mente vingativa. Logo, viam-se somente pancadas e empurrões, meramente constatadas em intervalos retangulares, no canto superior e noroeste da cela, devido a uma nova claridade irradiada por luzes vindas do pátio, transmitida pela pequena janela composta de quatro barras de ferro; comum em quaisquer prisões; orlas e mais orlas de opressão e desespero. O que se escutava, a cada corte, era de maior apreensão.


Além do barulho de quedas e do ato de ofegar, notavam-se vozeares de incentivo. Fantasie-se em um pequeno ginásio, onde bem no centro, dois indivíduos brutais confrontam-se e, de repente, todos ao redor iniciam berros e mais berros, — para não citar as ofensas expressionais. — no entanto, não são bramidos de torcida, mas sim encorajadores, para os lutadores assassinarem um ao outro e, recorrentemente, despejarem e si inundarem de sangue e mais sangue.



“Não sinto minhas pernas... É agora.”, disse a si próprio o jovem, enquanto se relevantava e livrava-se dos braços de uns três prisioneiros da gaiola vizinha, que o “prenderam” após um abalo do garoto contra a divisória de território: aquelas enormes lanças de ferro, que repartem as áreas de cada jaula; a razão da existência delas é desconhecida, talvez para impedir suicídios em massa. Assim, o rapaz decidiu utilizar a mais clichê das técnicas. Aguardou, simulando uma morte ou coisa parecida, a atenção da adversária, que rapidamente caminhou curiosa e ansiosa para mais afrontamentos sarcásticos. No instante que Lenir enfim chegou ao encontro do rapaz e escorregou suas mãos suaves nas coxas magricelas do próprio, ambos os espectadores malucos assistiram o bote. 

Acontecera que o menino, atento ao momento ideal e sem demora, agarrou a nuca sensível da mulher. E, empurrando e sufocando-a, atirou, repetidamente, sua cabeça defronte a parede espessa do aposento. Com certeza gerou dores na maluca. Entanto, ela demonstrou-se apenas satisfeita e, arregalando seus olhos cor de mata, inaugurou risos sutis, porém que causariam repulsão de desgosto aos que a enxergassem, escutassem. Eli, ainda sem reparar a despreocupação de sua oponente, insinuou: 

— As sombras lhe traem. E agora? Vamos, insulte meus pais?! — súbito, o jovem virou, a base da força, a face de Lenir e a encarou friamente. Percebeu, por fim, a indolência atormentadora da própria. — Eles morreram, vadia! Aos meus olhos. Vamos, esquecera os insultos? Arrepende-se da maldade, vagabunda? 

— Sou o mal necessário. — respondeu a doida, num longo espaço de tempo. — Vejo que te transformei em algo mais maquiavélico, o que me diz? Não afirmou você, que eu não poderia zombar seus pais? Continuo o fazendo e ainda estou aqui, nua e poderosa, filho de covardes imprestáveis. Ou melhor, filho de covardes imprestáveis que, neste momento, arrependem-se no inferno por não terem sido pessoas más e sem dó. Os de bom coração esquecem a inexistência de companheiros. — a palavra “companheiros” mal acabara de se repercutir no ambiente repugnante e nasceram quatro estrondos. O primeiro tratava-se do som derivado a bordoadas contínuas, contra algo sólido e extremamente duro: o órfão recomeçou a tortura à Lenir, que continuava em expressões tranquilas e saciadas. Em seguida, os estalidos de palmas parcialmente descontentes, provindas dos cativos amantes de destruição; este, o segundo estrondo. O terceiro barulho era amedrontador. Resultando em aspectos desgraçados, um ruído trovejante e enferrujado soou, acompanhado da abertura de todos os portões de cativeiro da passagem sombria, feito magia negra, já que não havia ninguém a abri-los. Por último, o ribombar de um sino, um ribombar de causar calafrios e arrepios. Horrível e perverso. 

A pobre criança mal sabia o significado de tudo aquilo. Afundou-se nas dúvidas e incoerência no minuto em que todos os presos puseram-se de pé e a dama sádica, que em conclusão ficou assustada, facilmente libertou-se dos seus braços finos e magricelos, mas fortes pela sede de punição. O entendimento parcial foi alcançado, logo que a população de detidos reuniu-se completamente no imenso e misterioso corredor. 

— Hora da tortura diária, convidados. — bradou uma voz severamente grossa, grossamente extraordinária. Enunciada de um local um pouco mais luminoso, bem além; visto de cima, muito à frente de cabeças carecas e relevadas; no sentido e percurso oposto do qual Eli seguiu à felicidade de Rezalet, meia dúzia de horas atrás; na direção norte, a mesma direção na qual os detentos mantinham olhares apreensivos e de reverência (obrigatoriamente, creio eu).


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NOTA: A história tem como base a crônica "The Magician's Nephew" do escritor C.S.Lewis; nesta, o mundo Charn é citado.

Idealizado por Rodrigo Carvalho;
Escrito por Luis Henrique;


Enfim todos poderão ter "As Crônicas de Charn: Apocalipse" em mãos. Próximo ao término das postagens de capítulos aqui, no Skandar Keynes BR, será publicado o livro desta renomada história.  Aguardem novidades.

Todos os direitos reservados: Luis Henrique e Rodrigo Carvalho.
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