2013/04/18

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As Crônicas de Charn [Cap.XVI]

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Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.
As Crônicas de Charn Apocalipse: — Documento I.


“Oh, Imperatriz de poder magnífico, cujo nome não sou digno de citar. Vanglória às suas vitórias, na qual novos infelizes contemplaram a miséria; assim como eu, acredito, insignificante a seus pés. Concretizem seus desejos e prazeres, ó Rainha, tal como não posso mais sonhar. A desgraça diária que nos daí hoje, seja a prova das nossas infidelidades em outros tempos, queimaremos nas chamas por tais atos. Vendo-te minha alma, ó Ministra da Magia Negra; lastimarei no inferno, ó deusa, se já não estou no próprio. Serei esquartejado para concedê-la a proeza de ser a última a respirar. — Orações, como ordenado e sugerido, dama. Percebo, então, que terei de narrar as minhas desgraças, ó senhora fonte de minhas insônias, cujo título talvez não seja apropriado ao termo mãe; talvez algo de maior respeito e significância. Vivencio pesadelos na sua base, majestade, entendida por diferentes olhares no passado. Jamais imaginava eu, a existência, em terras abandonadas do Norte, do desespero e ingratidão em corpo sólido. (...) A origem da frustração, aniquilação, maldade, estertor e loucura. Na totalidade de sua autoria, soberana dos espíritos.
Adquiri cicatrizes perpétuas, sinais perturbantes e a cada minuto que aqui passo, questiono-me o porquê e até quando. No entanto, nada fora como caminhar ao palco central da tristeza, ao seu banquete sangrento, alteza. No qual funciona exatamente como uma peça teatral de suspense; os atores, — perturbados, aliás — berram até terem a garganta seca, iludem os sábios como se realmente ali sofressem; os figurantes, por sua vez, agem cruamente e acompanham friamente o roteiro, afinal, são textos dolorosos; cabe á você, administradora do estertor, dirigir sua fantástica obra, de agrado colossal. Um universo fantasiado por efeitos mágicos e negros, tais como as aparições animadas no muro principal, que representam singelamente o tormento dos prisioneiros de rostos dilacerados; num determinado momento, eu tive meu nariz inundado em sangue, excelência, então notei um pequeno personagem rubro nas paredes rochosas, à minha frente. Parabenizo-a também pela feitiçaria contida neste graveto médio, de tinteiro cor de rosas, com o qual escrevo. 

‘Saudações, jovem. Por pouco não o reconheci, devido a essa sua cara desonrada e talhada. Por acaso recorda-se dessa sua face horrenda beijando a lama, inútil? Reparo, juntamente, em seu corpo ainda menor e magricelo. Deve estar com fome, porque não a sacia desfrutando desta mulher carnuda, em sua frontaria?’ — Relembro perfeitamente as frases ecoadas por aquele homem corpulento, responsável pela minha chegada a este centro das almas penadas, tão bem quanto os seus braços de veias saltadas, que impediram meu avanço e de toda a multidão arruinada do corredor penitenciário. — ‘Eu serei seu demônio nesta cerimônia. O encarregado de atribuí-lo a dor e angústia. (...) Observem os olhos enfurecidos dele, meus filhos. Acalme-se moleque, permita-me amaciar este esqueleto para os chicotes. ’ — Súbito, vi-me guiado para a extremidade esquerda do pátio, atravessando e desviando-me de corpos esfaqueados e dormentes. A trilha era reta, não muito distante e afastada por alguns pilares da passagem de celas. Num relance, Lenir cruzou meu encontro e afastou-se para leste; quase impossível era acreditar no sorriso da mulher em algum dia de sua vida, depois de analisar seu rosto no descrito minuto. (...) Akashi Tremore, Ministra. 

Encontrei-me ao conjunto de cem indivíduos, todos nus, ajoelhados e inclinados perante um pequeno córrego de água cinza-esverdeada, com algumas pequenas manchas vermelhas diluídas no negro, que os atravessava. Alguns centímetros atrás de cada um da fileira horizontal haviam guardas trajados a preto, de faces escondidas por capuzes prateados e de chicotes cor de chumbo em mãos recobertas por luvas de couro; ambos mantinham-se em postura insensível e cientes do sofrimento que causariam. Rapidamente encontrei-me nas mesmas situações cativas: brutalmente fui posto aos joelhos, com chutes e maldições do mesmo sujeito volumoso e orientador, já em minha vanguarda. (...) A ti narro meus pesadelos, deusa da bruxaria. 

Consequentemente iniciou-se a aflição. Explorei e fitei em torno, notando, assim, o aguardo de todo o elenco à injúria, tanto dos vigilantes como dos prisioneiros, de aspecto apreensivo. Num abrir e fechar de olhos, um ribombar familiar soou, acompanhado do estalar de incontáveis chicotes e do liberar da lâmina de uma das guilhotinas. Minhas costas flamejavam. Não possui o tempo necessário para qualquer praguejo, quando senti outro movimento ardente em meu dorso. Berrar e chorar somente piorava, pois a cada mínimo barulho dos aprisionados, meia dúzia de chicoteadas extras era concedida. Séries de dez flageladas e tínhamos nossas cabeças mergulhadas na água imunda à dianteira. Lá, permaneciam por minutos, até termos a perca da respiração beirando o completo e estarmos prestes a problemas neurológicos graves — (ocorrido em dezenas). 

Escrevo-a com o corpo deformado e mente desvirtuada. Terei a oportunidade de encontrá-la um dia, Imperatriz, para enfim negociarmos o meu passado, tanto influenciado. (...) Positivamente, acredito. 


Devoto n° 64.397. Cela 15, cativo 863; 
Órgão genital decepado pelos 800 e meados caracteres, 8 vanglórias; 
Segundo dia de inverno, D.O.P.S.

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FIM DA PRIMEIRA TEMPORADA.
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NOTA: A história tem como base a crônica "The Magician's Nephew" do escritor C.S.Lewis; nesta, o mundo Charn é citado.

Idealizado por Rodrigo Carvalho;
Escrito por Luis Henrique;


Enfim todos poderão ter "As Crônicas de Charn: Apocalipse" em mãos. Próximo ao término das postagens de capítulos aqui, no Skandar Keynes Brasil, será publicado o livro desta renomada história. Aguardem novidades.

Todos os direitos reservados: Luis Henrique e Rodrigo Carvalho.
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