2013/05/20

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Keynes detalha o ritual Ashura

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Neste ritual, os xiitas cortam-se e andam ensaguentados nas ruas do Líbano.
Alguns chamam de 'festival', porém é visto como um ritual sangrento e tenebroso por outros, que acabam por se chocar com tanta violência praticada pelos xiitas, - o segundo maior ramo de crentes do Islão, que constituem 16% do total dos muçulmanos. - que celebram o Ashura durante dez dias, período no qual as pessoas participam de encontros e palestras islâmicas. 

No último dia, considerado o ponto alto da comemoração, acontecem os rituais de martírio. Os xiitas cortam-se com navalhas, facas e espadas para ficarem cobertos de sangue, e sair nas ruas batendo com suas mãos contra o peito e cantando cânticos religiosos. Para os muçulmanos xiitas, sangrar é um sinal de respeito, mas o envolvimento de crianças ainda de colo, que não entendem ou sabem o que está acontecendo, é chocante, pois elas tem suas cabeças arranhadas com navalhas pelos próprios pais. Será que ao menos essas crianças sabem o que significa "respeito"?

Este assunto que Skandar aborda nesta matéria já ganhou muitas críticas, leia a tradução, e entenda o porquê:

Semana 4
— Colunista Skandar Keynes / 19 de maio de 2013.
*ATENÇÃO: Este artigos contém algumas ilustrações e imagens sangrentas* Skandar tenta elaborar um sentido para o festival de derramamento de sangue de Ashura.

Uma vida inteira de experiência ainda pode deixá-lo despreparado para Ashura. Até o meu avô de 95 anos ficou realmente surpreso.

Mostrando fotos dos eventos para os outros, de imediato as induz a sentir nojo e condenação para aqueles que consideram práticas medievais. De fato, trabalhei em como processar isso tudo, e foi preciso de algum tempo. Minhas memórias ainda estão transbordado com tantas e várias entradas sensoriais: o som de milhares de pessoas soluçando; o tedioso cheiro de sangue entranhado em suas narinas; a sensação de respingos de sangue contra um pescoço descoberto, e à vista dos homens amassados no chão.

Como um historiador , você não pode ajudar, mas pode se impressionar em ver o passado sendo drasticamente trazido à vida através de rios de lágrimas e sangue. O evento comemora o martírio de Hussein Ibn Ali, na batalha de Karbala em 680 D.C. De muitas maneiras ele encarna o que significa ser um xiita, em oposição a um sunita.

Pessoas convergem para cidades e praças da cidade para que se unam em memória de um dos momentos decisivos da divisão do Islã. Aos milhares, homens e mulheres se reúnem para ouvir a história contada emocionalmente em grandes salões. O agregado de mil soluços é como um vento uivante, que sobe e desce com as ondulações do drama da história.

Não se pode ignorar o impacto que tais cerimônias têm sobre a identidade da comunidade. Quanto mais tempo o sangue flui, mais homens devem se unir, apoiando fisicamente uns aos outros, como eles estivessem próximo ao ponto do colapso. Quando alguém cai, é imediatamente pegado e levado para as primeiras tendas de auxílio instituída pela praça, em questão de segundos. É difícil pensar em uma atividade comunitária que tenha ligação mais íntima senão chorar ao lado de milhares de outras pessoas. Os alimentos são entregues em mesquitas e nas casas das pessoas. Uma família tinha comprado a carne de nove ovelhas para o evento.

Você não pode tratar de Ashura como um evento isolado, como ele molda a percepção de ambos os lados da divisão entre sunitas e xiitas. Enquanto os perpetradores sunitas que assassinaram brutalmente Saddam Hussein, são insultados e demonizados pelos xiitas, para outros fora da comunidade, a visão de derramamento de sangue é de choque e apavoramento. Imagens de crianças participando de auto-flagelação são especialmente difíceis para muitos estômagos.

Quaisquer que sejam as conclusões sobre o espetáculo, não há dúvidas de que para os estrangeiros esse tipo de respeito não é inspirador - embora eu tenha uma reclamação a fazer. - À cerca de meia hora de volta para casa, cães haviam farejado sangue em meus sapatos.

Consequentemente, agora estou sem o par de sapatos.

— Por Skandar Keynes 
(Leia o artigo anterior/Leia o próximo artigo)

Deixamos claro que não queremos que quaisquer criança faça ou insinue estes atos em casa. 
NOTA: Skandar não participou do ritual, ele foi apenas um 'telespectador' nato, que detalhou tudo pra gente.
"Devemos compreender que esta é a cultura deste povo, e assim como há tantas outras culturas, esta também merece ser entendida e respeitada. Mas... cá entre nós, confessemos... ainda é muito difícil de compreender."
— Eduardo Lertmon

Em inglês, leia a matéria original no site do The Tab Cambridge.
Informações: Enciclopédia livre: | I.B
Imagem: Todos os direitos reservados.

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