2012/12/29

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[Especial] Edmundo e o perdão.

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Especial Pensamentos de um Paulama

“ — O que os paulamas, habitantes dos pântanos do Norte de Nárnia, gostam de fazer? – questionou um tolo das bandas do leste - Ou melhor, como são?

— Bem, alguns dizem que não possuímos corpo, apenas pernas e braços. Outros cometem a idiotice de dizer que assemelhamos rãs; tamanha besteira... Possuo um rosto magro e comprido, sem barba, bochechas encovadas, boca apertada e nariz pontudo; talvez sejamos mais feios do que as próprias rãs, ou pior... Gostamos de chapeis altos e pontudos, mas sem exageros. Nosso cabelo, cinzo-esverdeado, é exótico, exceto nos invernos... Odiamos, odiosamente, piadas; não as faça. Gostamos de narrar e expor opiniões sobre histórias passadas, no entanto, somos piores do que seres mudos ao fazê-lo.

A traição de Edmundo

Décadas atrás, nos tempos em que um alemão almejava o domínio absoluto da Terra, quatro irmãos, os Pevensie, – Pedro, Susana, Lúcia e Edmundo – refugiaram-se em uma mansão, propriedade de Digory Kirke. Lá, descobriram um outro mundo, - onde os animais falam, as árvores dançam e o ruído das ondas do mar mais se parece com uma melodia suave - por intermédio de um belíssimo guarda-roupa.

Lúcia, a mais nova e solene dos quatro, fora a primeira a descobrir o tal universo. No entanto, ao relatar as aventuras que lá vivera, não foi compreendida e acabou zombada. Dias passaram e ainda curiosa, a menina decidiu explorar novamente o artefato antigo. Dessa vez, porém, Edmundo, seu irmão, a seguiu e, instantes depois, encontrou-se em uma mata espessa e recoberta de neve: o tal outro mundo, Nárnia. Subitamente, um trenó montado puxado por duas renas o cruzou. E a base de promessas e guloseimas da mulher maldosa que nele montava, Edmundo garantiu que levaria e guiaria seus outros irmãos àquelas terras.

“Ao ceder a tal mulher do trenó, o menino poderia ser morto! Ela poderia congelá-lo, o enfeitiçado, ou pior, amaldiçoá-lo para que nunca mais encontrasse peixe em dias de pesca! Eu não queria ser ele, pelo Leão, que garoto estúpido...” – resmungou um paulama, anos atrás. O mais sossegado e rabugento da sua espécie... Aqueles dos pântanos mais afastados.


Ora, Edmundo cofiou naquela senhora estranha, pois sempre sonhou com poder e respeito, coisa que nunca tivera antes, já que seu irmão Pedro era o mais velho e de posição mais alta na “hierarquia da família”. Perturbado pela ganância, agiu de forma errada e colocou seus familiares em grandes perigos, em terras jamais vistas ou imaginadas.

No nosso dia a dia, negociamos e leiloamos com o pecado e maldade; vendemos sentimentos e compramos poder. O dinheiro acaba por movimentar multidões que esquecem a bondade e como fruto, convivem com uma sede diabólica e fome insaciável por prazeres materiais. A traição pode até atropelar os amigos, mas nunca, nunca mesmo, irá ultrapassar por cima da sua consciência. Cá entre nós, não há nada como descansar e colocar a cabeça no travesseiro, naquele dia maçante, em paz com Ele e a si.

“Traição? Nós, paulamas, apenas traímos aquele que nos roubou um bom cachimbo.” – relatou Joaneiro, um paulama gorducho, assim que soube da história.

Edmundo fora um péssimo garoto e irmão. Porém, se perdoou e pediu desculpas e assim, alcançou novamente a confiança. Às vezes, erramos gravemente e chegamos a não crer mais na luz no fim do túnel. No entanto, são nesses momentos que os dignos e nobres se revelam; o que compartilha e aceita carinhosamente, seguido de um abraço, o perdão.

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